sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

12 Fevereiro 2017 - 6º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Leituras: aqui
«Ouvistes o que foi dito aos antigos…
Eu, porém, digo-vos…»!
Mt 5,17-37


1. «Sim, sim; não, não»! Do princípio ao fim, é assim a linguagem do Sermão da Montanha! É de bem difícil digestão, mas a verdade é que não há aqui réstia de confusão. O que foi dito, pela Lei, aos antigos, permanece válido. E Jesus não retira uma vírgula. Para Jesus os mandamentos não têm prazo de validade! Mas também acrescenta, que não basta cumprir exteriormente o mínimo da Lei. Quem O segue levará a lei do amor, ao seu próprio coração, e vivê-la-á, até às suas últimas consequências. E, pela parte que nos coube hoje ouvir, teremos, pois, todos muito a crescer, até alcançar “esta medida alta da vida cristã comum” (NMI 31).
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2. Como habitualmente, fixemo-nos, apenas, em três exigências máximas do amor.
2.1. Primeiro, Jesus leva às últimas consequências o 5.º mandamento da antiga Lei: «Não matarás». Talvez aqui ficássemos um pouco de consciência tranquila, por nunca termos cometido um aborto, um homicídio ou alguma tentativa de suicídio. Ora, Jesus vai bem mais longe: «Não matar» não é apenas não praticar o homicídio ou não atentar o suicídio. Quem odeia o seu irmão é um homicida (1 Jo 3,15): também a ira e a raiva, a indiferença ou o desprezo pelo outro, a maledicência e a difamação, o mexerico e a calúnia, são armas de destruição maciça, que matam verdadeiramente. E hoje, Jesus diria: também a eutanásia, isto é, “qualquer gesto ou omissão, que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte, com o objetivo de eliminar o sofrimento” (EV 65) é uma falsa compaixão e atenta contra o direito à vida, que nunca perde, em caso algum, a sua dignidade. “Não matar” não nos exige apenas depor as armas da violência, mas implica entrar na luta pelo cuidado e pela defesa da vida e da sua dignidade, que permanece inalterável, desde a sua conceção inicial ao seu ocaso natural. Não lutemos por uma morte assistida, mas por uma vida assistida até à morte. Sempre pela vida, até à morte. Mas nunca pela morte, antes da vida.
2.2. Segundo, Jesus leva às últimas consequências os 6.º, 9.º e 10.º mandamentos da antiga Lei, que preservavam a verdade do amor. E aqui, Jesus vai à raiz do pecado. Ele sabe que todo o mal lança raízes no coração; entra pela cobiça dos olhos e cola-se facilmente nas mãos. Por isso, Jesus diz um violento «corta!»… a imagens e cliques, que desviam o coração e as mãos, de uma saída limpa. Para chegar onde Jesus nos quer levar, na linguagem do amor, já não basta a virtude da castidade; é preciso respeitar a verdade da própria natureza humana do corpo, da sexualidade e do amor…Sempre o amor. Mas nunca o amor sem verdade.
2.3. Por último, Jesus toma o 8.º mandamento da antiga Lei, para não conceder qualquer espaço à mentira, nem mesmo à “mentirinha piedosa”! Ele exige-nos plena lealdade na nossa linguagem: “sim, sim; não, não”. Não há aqui lugar para o “nim”, para a ambiguidade do “assim-assim”. Jesus não entra na conversa fiada de quem disfarça a mentira com a suposta “inverdade”, ou de quem dá cobertura à “aparência” ou ao “boato”, com a treta da “pós-verdade” ou dos “factos alternativos”. Quanta atualidade tem este mandamento da verdade, quando a palavra dada deixou de ser um testamento, e quando as promessas se tornaram apenas iscos e riscos de ilusão e captura. Sempre a verdade. Mas nunca a verdade sem amor.

3. Queridos irmãos e irmãs: o Sermão da Montanha continua para a semana… Mas antes de continuar a escalada façamo-nos três perguntas simples: 1. Estou a matar alguém aos poucos, com a minha indiferença, o meu desprezo, a minha má-língua, o meu mexerico venenoso? 2. Estou a desviar o olhar do meu coração, deixando-o contaminar pelo desejo de posse do outro ou pela cobiça do bem alheio? 3. Estou a trocar a palavra dada pela conveniência, e a verdade pela aparência?
Comecemos por aqui, pelo mais básico e fundamental dos mandamentos, para chegarmos ao TOP da lei: àquela lei do amor, que não tem mãos a medir!
Amaro Gonçalo

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