quarta-feira, 1 de novembro de 2017

2 de novembro - COMEMORAÇÃO DE FIÉIS DEFUNTOS 2017


1. Vivemos (ontem) a celebração de Todos os Santos, fixando os nossos olhos nestes nossos irmãos e irmãs, que nos fazem companhia ao longo do nosso caminho na Terra, e são testemunhas da nossa esperança no Céu. Agora (hoje) gostaria de pôr em confronto esta esperança cristã com a realidade da morte que a nossa civilização moderna tenta esconder ou descartar cada vez mais. Assim, quando a morte chega, seja para quem nos é próximo, seja para nós mesmos, não nos encontra preparados! Falta-nos hoje um “alfabeto” adequado para oferecer palavras reveladoras e decisivas, diante de alguém que nos morre.

2. Poderíamos mesmo dizer que o homem nasceu e se afirmou como tal, precisamente com o culto dos mortos. O homem morre como as outras criaturas, mas é a única criatura que sabe que vai morrer. Assim, a morte põe a nossa vida a nu. Faz-nos descobrir que as nossas ações de orgulho, ira e ódio são vaidade, pura vaidade. Apercebemo-nos, desapontados, que não amámos o suficiente e que não procurámos o que era essencial. E, pelo contrário, vemos, a partir da morte, o que de verdadeiramente de bom semeámos: os afetos pelos quais nos sacrificamos e que agora nos levam pela mão. Então, o pensamento da morte é princípio de sabedoria, daquela sabedoria do coração.

  3. Jesus iluminou o mistério da nossa morte. Ele ficou «profundamente» perturbado diante do túmulo do amigo Lázaro, e «desatou a chorar» (Jo 11,35). Nesta sua atitude, sentimos Jesus muito próximo, nosso irmão na dor, no luto. E vemo-l’O rezar ao Pai, fonte da vida, ordenando a Lázaro que saia do sepulcro. E assim acontece! A esperança cristã alimenta-se nesta atitude de Jesus contra a morte: mesmo estando presente na criação, a morte é uma cicatriz que deturpa o desígnio de amor de Deus e por isso o Salvador vem chamar-nos e resgatar-nos da morte para a Vida nova.

  4. Ao choro de Marta pela morte do irmão Lázaro, Jesus contrapõe a luz da fé e a esperança no amor mais forte do que a morte: «Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais. Acreditas nisto?» (Jo 11,25-26). Eis a pergunta que Jesus repete a cada um de nós todas as vezes que a morte vem arrancar o tecido da vida e dos afetos! Toda a nossa existência se joga aqui, entre a vertente da fé e o precipício do medo. Que grande graça, se no momento da morte guardarmos no coração a pequena chama da fé que as velas acesas nos recordam. Então, Jesus guiar-nos-á pela mão.

  5.  Precisamos de valorizar os gestos de acolhimento, de presença e de proximidade, de oração e de acompanhamento das pessoas, em situações de luto. A Igreja não pode alhear-se dos seus filhos, em situações tão dolorosas, como é esta, “quando a morte crava o seu aguilhão(cf. Misericordia et Misera, n.º 15; AL, n.os 253-258). Por isso, exorto a que animemos de maior espírito pascal as celebrações exequiais.

  6. Convido-vos, por fim, a fechar um pouco os olhos e a pensar no momento da nossa morte, em que Jesus virá para nos tomar pela mão, com a Sua ternura, a Sua mansidão, o Seu amor, e nos dirá: “Vem, vem comigo, levanta-te”. Deixemo-nos levar até Ele e elevar por Ele. Alcançaremos então a vida plena que esperávamos!  Esta é, pois, a nossa esperança, diante da morte. Para quem crê, é uma porta que se abre de par em par; para quem duvida, é uma brecha de luz que filtra por uma porta que não se fechou completamente. Mas será para todos nós uma graça, quando esta luz, do encontro com Jesus, nos iluminar por inteiro e contemplarmos a Deus face a face, exclamando como o salmista: “Na Tua Luz, Senhor, veremos a luz(Sl 36,9).
Amaro Gonçalo

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.