quinta-feira, 3 de julho de 2014

Síntese/condensação do texto do Credo do Povo de Deus, de Paulo VI, 30 de junho de 1968


1. Cremos num só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – Criador das coisas visíveis, o mundo onde decorre nossa vida passageira; e invisíveis, como os puros espíritos e a alma espiritual e imortal em cada homem.

 2. Cremos que o Deus único é uno na essência e demais perfeições: omnipotência, ciência, providência, vontade e amor. É Aquele que é, como Se revelou a Moisés; é Amor, como garante o Apóstolo João. Só Ele pode dar-nos conhecimento exato e pleno de Si, revelando-Se como Pai, Filho e Espírito Santo, de cuja vida nos é dado participar aqui na obscuridade da fé e, depois, na luz sempiterna. A mutualidade das relações, constitutiva da unicidade das Três Divinas Pessoas, perfaz a bem-aventurada vida íntima do Deus Santíssimo – facto que os crentes testemunham connosco ante os homens, mesmo não conhecendo o mistério da Trindade. Cremos no Pai, que desde a eternidade gera o Filho; no Filho, Verbo de Deus eternamente gerado; e no Espírito Santo, Pessoa incriada, que procede do Pai e do Filho como Amor sempiterno de ambos. Cremos nas Pessoas Divinas, eternas e iguais, em que a vida e a felicidade superabundam e se consumam na superexcelência e glória da Essência incriada, devendo venerar-se a Unidade na Trindade e a Trindade na Unidade.

4. Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, Verbo eterno, nascido do Pai antes de todos os séculos, consubstancial ao Pai, por quem tudo foi feito; Encarnado pelo Espírito Santo, de Maria Virgem, e feito homem; igual ao Pai, na divindade, mas inferior a Ele, pela humanidade; uno, não por confusão de naturezas, mas pela unidade de pessoa.

5. Habitou entre nós, cheio de graça e verdade; anunciou e fundou o Reino de Deus, revelando em Si o Pai; deu o mandamento novo de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou; ensinou a via das bem-aventuranças – pobreza e mansidão, paciência no sofrimento, sede de justiça, misericórdia, pureza de coração e pacificidade, aceitação da perseguição por mor da virtude; sob Pôncio Pilatos padeceu, Cordeiro de Deus que carregou o pecado do mundo e morreu crucificado por nós, trazendo-nos a salvação no Sangue redentor; sepultado, ressuscitou ao terceiro dia por seu poder, elevando-nos à participação na vida divina, a graça; subiu ao céu, donde virá de novo, mas em glória, a julgar os vivos e os mortos, segundo o mérito de cada um: quem seguir o Amor e a Misericórdia terá a vida eterna; porém, quem os recusar em definitivo terá por destino o fogo incessante. E o seu reino não terá fim.

6. Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, adorado e glorificado com o Pai e o Filho; que falou pelos profetas e foi enviado por Jesus, depois da ressurreição e ascensão ao Pai; que ilumina, vivifica, protege e governa a Igreja, purificando seus membros, que não rejeitam a graça; que penetra no íntimo da alma, tornando, com Sua ação, o homem capaz de observar o preceito de Cristo: sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste

7. Cremos que Maria Santíssima, sempre Virgem, se tornou Mãe do Verbo Encarnado, nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo; que, por esta eleição singular, em consideração dos méritos do Filho, foi, de modo mais sublime, remida e preservada imune do pecado original, superando as demais criaturas pelo dom de uma graça insigne.

8. Associada por vínculo estreito e indissolúvel aos mistérios da Encarnação e Redenção, a Virgem Imaculada, após o curso de sua vida terrestre, foi elevada em corpo e alma à glória celestial; e, tornada semelhante ao Filho, ressuscitado dentre os mortos, participou, por antecipação, da sorte dos justos. Cremos que a Mãe de Deus, nova Eva e Mãe da Igreja, desempenha lá do céu o ofício materno para com os membros de Cristo, cooperando para gerar e desenvolver a vida divina em cada um dos remidos.

9. Cremos que todos pecaram em Adão, o que significa que a culpa original fez que a natureza, comum aos homens, caísse num estado em que sofre as consequências dessa culpa. É, pois, a natureza decaída, despojada do dom gratuito que a adornava, ferida em suas forças naturais e submetidas ao domínio da morte, que é transmitida a todos os homens.

10. Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz, nos remiu do pecado original e dos nossos pecados pessoais, de sorte que se impõe como verdadeira a sentença do Apóstolo: onde abundou o delito, superabundou a graça.

11. Cremos professando um só Batismo, instituído por Cristo para a remissão dos pecados, que deve ser ministrado também às crianças que não cometeram pecado algum, para que, nascidas sem a graça sobrenatural, renasçam da água e do Espírito para a vida divina.

12. Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Cristo sobre a pedra, que é Pedro. É o Corpo de Cristo, sociedade visível, estruturada hierarquicamente e comunidade espiritual. Igreja terrestre, Povo de Deus peregrinando na terra, e Igreja enriquecida de bens celestes, germe e começo do Reino de Deus, por meio do qual a obra e os sofrimentos da Redenção continuam, ao longo da história humana, aspirando com todas as forças à consumação perfeita, que se conseguirá na glória celestial, no fim dos tempos. Formada, no decurso do tempo, por Jesus com os Sacramentos que emanam de sua plenitude, a Igreja faz, por eles, com que seus membros participem do mistério da Morte e Ressurreição do Senhor, pela graça do Espírito Santo que a vivifica e move. É santa, apesar de incluir pecadores no seu seio, pois em si mesma não goza de outra vida senão a da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, santificam-se; se dela se afastam, contraem pecado e impureza espiritual, que impedem o brilho e a difusão da santidade. Por isso, ela faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles seus filhos pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito.

13. Herdeira das promessas divinas e filha de Abraão no Espírito, por meio do povo de Israel, cujos livros guarda e cujos Patriarcas e Profetas venera; edificada sobre o fundamento dos Apóstolos, cuja palavra sempre viva e cujos poderes pastorais vem transmitindo de geração em geração, no sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; gozando, enfim, da perpétua assistência do Espírito Santo, tem o encargo de conservar, ensinar, explicar e difundir a Verdade por Deus revelada aos homens, de modo velado, pelos Profetas e, plenamente, por Jesus. Cremos em todo o conteúdo da Palavra de Deus, por escrito e por tradição, proposto pela Igreja, em declaração solene e no Magistério ordinário e universal; e na infalibilidade do Sucessor de Pedro, quando fala ex cathedra, como Pastor e Doutor dos cristãos, e do Colégio dos Bispos, quando com o Papa exerce o Magistério supremo. 

14. Cremos que a Igreja, fundada por Cristo, que por ela orou, é una, na fé, no culto e no liame da comunhão hierárquica, em cujo seio, a variedade ritual e a diversidade do património teológico e espiritual ou disciplinar declaram a sua unicidade.

 15. Reconhecendo que fora da estrutura eclesial há elementos de santificação e verdade, que como dons próprios da Igreja impelem à unidade, e crendo na ação do Espírito que suscita em todos os discípulos o desejo da unidade, esperamos que os cristãos, ainda não em plena comunhão com a Igreja, se unam num só rebanho sob o único Pastor. 

16. Cremos que a Igreja é necessária à Salvação, pois só Cristo é o Mediador e caminho da salvação, e Ele se nos torna presente no seu Corpo, que é a Igreja. Mas o desígnio divino abrange todos os homens, e mesmo os que, ignorando sem culpa o Evangelho e a Igreja, procuram a Deus com sincero coração e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir com obras a sua vontade, conhecida pela consciência, obtêm a salvação eterna.

 17. Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, na pessoa de Cristo, mercê do poder do sacramento da Ordem, e oferecida em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é o real Sacrifício do Calvário, tornado presente em nossos altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo Senhor na última ceia se converteram no seu Corpo e Sangue, que iam ser oferecidos por nós na Cruz, assim o Pão e o Vinho consagrados pelo sacerdote se convertem no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente do céu. Cremos que a presença do Senhor, sob as espécies que aparecem aos sentidos como dantes, é presença verdadeira, real e substancial

18. Neste sacramento, Cristo, para se nos dar em alimento e nos associar pela unidade do seu Corpo Místico, como foi vontade sua, está presente pela mudança de toda a substância do pão e do vinho no seu Corpo e Sangue, permanecendo apenas inalteradas as propriedades de pão e vinho, que percebemos pelos sentidos – mudança misteriosa que a Igreja chama com total exatidão e conveniência transubstanciação

19. A única e indivisível existência de Cristo nosso Senhor, glorioso no céu, não se multiplica, mas torna-se presente pelo Sacramento nos vários lugares da terra onde o Sacrifício Eucarístico se celebra. E, depois da celebração, a mesma existência permanece presente no Santíssimo Sacramento, que permanece no sacrário do altar como o coração vivo de nossas igrejas. Por isso, somos obrigados, por dever suavíssimo, a honrar e adorar, na Sagrada Hóstia que os nossos olhos veem, o próprio Verbo Encarnado que eles não podem ver e que, sem ter deixado o céu, se tornou presente diante de nós.

20. Confessamos que o Reino de Deus, começado aqui na terra na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa, e cujo crescimento não pode ser confundido com o progresso da cultura humana ou das ciências e artes técnicas, mas consiste em conhecer cada vez mais as riquezas insondáveis de Cristo, em esperar sempre com maior firmeza os bens eternos, em responder mais ardentemente ao amor de Deus, enfim, em difundir-se cada vez mais largamente a graça e a santidade entre os homens. Mas com o mesmo amor, a Igreja é impelida a interessar-se continuamente pelo verdadeiro bem temporal dos homens, pois, não cessando de advertir todos os seus filhos de que não possuem aqui na terra morada permanente, estimula-os a que contribuam, segundo as condições e os recursos de cada um, para o desenvolvimento da sociedade humana; promovam a justiça, a paz e a união fraterna entre os homens; e prestem ajuda aos irmãos, sobretudo aos mais pobres e infelizes. Destarte, a grande solicitude com que a Igreja, Esposa de Cristo, acompanha as necessidades dos homens, suas alegrias e esperanças, dores e trabalhos, não é outra coisa senão o ardente desejo que a impele com força a estar presente junto deles, tencionando iluminá-los com a luz de Cristo, congregar e unir a todos naquele que é o único Salvador – solicitude que não significa acomodação às coisas do mundo ou diminuição do fervor com que esperamos o Senhor e seu Reino eterno. 

21. Cremos na vida eterna e em que as almas dos que morrem na graça de Cristo – quer as que ainda se purificam no Purgatório, quer as que são recebidas por Jesus no Paraíso, logo que se separam do corpo, como sucedeu ao Bom Ladrão – formam o Povo de Deus para além da morte, que será totalmente vencida na Ressurreição, em que as almas se reunirão aos corpos. 

22. Cremos que as almas, reunidas com Jesus e Maria no Paraíso, constituem a Igreja celeste, onde, gozando da felicidade eterna, veem a Deus como Ele é e participam com os santos Anjos, em grau e modo diversos, do governo divino exercido por Cristo glorioso, já que intercedem por nós e ajudam nossa fraqueza com a sua solicitude fraterna.

23. Cremos na comunhão de todos os fiéis: dos que peregrinam sobre a terra, dos defuntos que ainda se purificam e dos que gozam da bem-aventurança do céu, formando todos uma só Igreja. E cremos que nesta comunhão dispomos do amor misericordioso de Deus e dos Santos, atentos a nossas orações, como Jesus garantiu: pedi e recebereis. Professando a fé e apoiados na esperança, aguardamos a ressurreição dos mortos e a vida do século futuro.

Bendito seja Deus: Santo, Santo, Santo! Amém.

2014.06.29

Louro de Carvalho

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