segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 de Abril: Igreja Católica deu prioridade à procura do «seu espaço no novo quadro social»

Alfredo Teixeira rejeita ideia de um «sobressalto religioso» após a revolução e destaca a novidade do pluralismo em contexto crente

O professor universitário Alfredo Teixeira Alfredo Teixeira disse à Agência ECCLESIA que o 25 de abril não causou “um sobressalto religioso” na sociedade, num período em que a Igreja Católica soube procurar o “seu espaço no novo quadro social”.
Em entrevista publicada na última edição do Semanário Eclesia, o investigador do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica Portuguesa (UCP) afirmou que a Igreja Católica “acabou por ter um papel muito importante na estabilização deste período revolucionário”.
“Não podemos dizer que o 25 de Abril tenha causado um sobressalto religioso na sociedade portuguesa, antes de mais porque estamos num quadro de transformações que vêm de trás, mas a afirmação do pluralismo religioso na história da sociedade portuguesa sofreu uma aceleração notável”, referiu Alfredo Teixeira.
Para o professor da Faculdade de Teologia da UCP, foi decisivo para a história contemporânea o facto da Igreja Católica, como “instituição na sociedade com maior capacidade agregadora”, ter “percebido que a sociedade estava no quadro de uma transformação necessária e ter dado prioridade sobretudo à procura do seu espaço no novo quadro social”.
Alfredo Teixeira valoriza o facto da Igreja Católica “não ter tomado um partido”, preocupando-se sobretudo com a afirmação da sua “identidade”, num novo contexto, onde “não é a única no espaço público, mas uma entre outras”.
A “afirmação do pluralismo religioso” na sociedade após o 25 de abril constitui, para Alfredo Teixeira, um “impacto assinalável na sociedade portuguesa”, uma vez que no modelo político anterior, mesmo sendo um modelo de laicidade, “as minorias religiosas tiveram muita dificuldade em afirmar-se”.
Para o investigador da UCP, as consequências da revolução de Abril foram notórias não apenas no âmbito político, mas sobretudo no acesso a “liberdades individuais”, o que “não podia deixar de ter influência no campo religioso”, sendo o facto mais relevante o acesso ao divórcio civil pelos casados de acordo com os “ritos católicos”.
“A abolição dessa disposição na Concordata foi uma das primeiras medidas da revolução e diria que ela é simbolicamente, talvez, um dos emblemas mais importantes desta transformação”, sustentou Alfredo Teixeira, acrescentando que corresponde à afirmação “de uma prioridade de liberdade individual face a uma qualquer tutela moral do espaço público por parte da Igreja ou das Igrejas”.
Alfredo Teixeira considera que “a grande linha de transformação” do 25 de Abril na sociedade portuguesa está na “crescente afirmação do individuo face às instituições” e a “circunstância de afirmação das liberdades individuais” vai ao encontro de “uma experiência marcante no cristianismo”, uma vez que “exige uma tomada de posição do indivíduo crente”.
“O que encontramos com a experiência cristã é, claramente, algo que passa por isto: o crente tem de dizer ‘sim, creio!’”, sublinhou.
O teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira analisa na última edição da revista ‘Communio’ as transformações religiosas que aconteceram em Portugal no contexto do 25 de abril de 1974 num artigo intitulado ‘A Revolução de abril num contexto de mudança religiosa. Destradicionalização e individualização’.
Agência Ecclesia

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